Poesia Infeliz!
(Edson Filho)
Madrasta irritante!
Que berra todos os dias aos meus ouvidos,
E me ordena a todo instante,
A lembrança, aos gritos!
A minha labuta agonizante,
De construí-la e reconstruí-la,
Perfeita e inquietante!
Numa inspiração sublimada
Para criá-la texto, verso e rima arfante,
Com imagem, cheiro, lira e pantomima!
Perdido entre as palavras oníricas,
Como um mendigo fedido,
Esmolando em terras desconhecidas,
Vejo pingando centavo por centavo caído,
Na cuia dos pensamentos,
Versos soltos, incultos, absurdos e inconclusos.
Na ponta da caneta, desce suor, escorre sangue e desespero.
Nesta árdua tarefa de fecundá-la, tornando-se fonte de meus tormentos.
Poesia que nada! Meretriz traiçoeira! Amante infeliz!
Que me obriga a mergulhar nos meus sofrimentos,
E me torna essa máquina motriz de construir textos em rima sem fim!